quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo. (Mt 12 : 6)


“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.”
(Mt 21:12-13)


Poucas vezes os Evangelhos relatam que Jesus esteve no Grande Templo de Jerusalém, a passagem acima diz respeito a uma destas poucas vezes, em nenhuma delas ele foi bem vindo, e em todas elas se indispôs com os líderes daquele edifício. Uma das vezes em que Jesus esteve no templo, é a relatada acima. Assim que chegou no templo Jesus foi cercado pelos lideres religiosos que o interrogaram acerca de qual era a sua autoridade para ensinar naquele lugar. Jesus respondeu com a clássica pergunta de volta: “de onde era o batismo de João?” e diante da recusa dos lideres em responder ele também não os respondeu diretamente, mas propôs a parábola do Pai que mandou seus dois filhos trabalharem na sua vinha. Veja como termina o capítulo 21: “E os príncipes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas palavras, entenderam que falava deles; E, pretendendo prendê-lo, recearam o povo, porquanto o tinham por profeta.” Relação difícil a de Jesus com o Templo, não é mesmo? É, mas ainda não termina aqui, veja o que diz no capítulo 22 e versos 15 e 16a: “Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra; E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos”. Tenso, não? O povo tava pra briga mesmo! É, mas Jesus dá logo um chega pra lá nestes também: “E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram.” Fico impressionado como Jesus incomodava os líderes religiosos do “povo de Deus”!!! depois dos Fariseus foram os discípulos deles e depois os saduceus e: “No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram.” Parece que nunca acabam as oposições ao “Verbo Vivo.” Olha os Fariseus ai de novo: “E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar. E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar”. Mas por fim diz Mateus: “E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo.” Assim Jesus encerra sua disputa com os líderes religiosos de então, de hoje e de sempre:

“ENTÃO falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo.”
(Mt 23:1-11)

Depois desta experiência desagradável no Templo veja qual era o pensamento de Jesus acerca de templos: “E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.” (Mt 24:1-2)

Diante dessa relação difícil entre Jesus e o templo, fico perplexo como algumas pessoas insistem em dizer que não estou ligado a uma igreja apenas pelo fato de eu não freqüentar um Templo, ou como chamam: “uma igreja”. Sei que são pessoas super capacitadas e experimentadas na Palavra que assim me acusam, mas eu como um mero mortal, um crente sem muita instrução, e sem nenhuma bagagem hermenêutica, acabo tropeçando em uma série de textos que encontro na minha Bíblia. Gostaria muito que um destes versados líderes tão amorosos e zelosos, me socorressem em minha ignorância acerca de passagens como as que abaixo descrevo:

Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: O céu é o meu trono, E a terra o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis? diz o Senhor, Ou qual é o lugar do meu repouso? Porventura não fez a minha mão todas estas coisas?
(At 7:48-50)

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.
(At 17:24-28)

Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.
(1 Co 3:16-17)

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.
(1 Co 6:19-20)

E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
(2 Co 6:16)

Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.
(Mt 18:19-20)

Porque aquele de quem estas coisas se dizem pertence a outra tribo, da qual ninguém serviu ao altar, visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio.
(Hb 7:13-14)

E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
(1 Pe 2:4,5 e 9)

Bom, são tantos versículos tão difíceis de entender que eu não poderia listar todos aqui, seria melhor colar todo o Novo Testamento (rsss), mas os que aqui foram listados são os que mais me parecem difíceis de entender, ou não? Mas tem um último texto que quero colocar aqui:

Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu. E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.
(Hb 10:19-25)

Engraçado que o escritor de Hebreus diz para que não abandonemos nossa CONGREGAÇÂO e não a nossa Igreja, o que seria impossível, já que uma vez que enxertados no corpo de Cristo, jamais poderíamos ser extraídos dele, e tampouco diz para não deixarmos nosso templo. A única referência acerca de uma possível fidelidade a um grupo de pessoas é claramente uma advertência para que não andemos sozinhos, e não para que sejamos engessados em um lugar pseudo-sagrado (que me perdoem as novas regras gramaticais). Assim fica difícil de um leigo como eu, que tem a ousadia de querer ler a Bíblia livremente, e entender o porquê de ser errado eu me reunir em casa com irmãos que amam a Deus, e que querem louva-lo e ter comunhão com Deus e com quantos mais tenham o mesmo desejo que eu. Será que existe algum texto bíblico que me proíba de fazer isso e eu ainda não achei (sou meio distraído é verdade, mas será que sou tanto assim?).

Não bastassem minha dúvidas com relação aos textos bíblicos, que me dão a entender que onde quer que estejam dois ou mais reunidos em nome de Cristo, ali há uma igreja, ainda fico pensando em como será que Deus vai fazer com tantos cristão perseguidos, em tantos lugares do mundo, que arriscam suas vidas e até com perda delas, para manterem sua fé em Cristo, sem terem jamais o direito de pisar em um templo. Irmãos que vivem em lugares como a China que é um país oficialmente católico, e seus cidadãos não podem cultuar, ao menos que seja em uma igreja registrada e supervisionada pelo governo. Dezenas de milhares de cristãos – número estimado em mais de 100 milhões – se recusam a cultuar em igrejas controladas pelo governo. Esses cristãos “clandestinos” ou “não registrados” cultuam secretamente em suas casas, correndo o risco de serem presos, multados, ou aprisionados pelos oficiais do escritório de segurança pública. Os membros de igrejas não registradas argumentam que o governo não deveria ser o líder da igreja, e restringir o lugar em que devem cultuar é infringir a liberdade religiosa. Na China, somente as igrejas registradas podem vender Bíblias. A venda e distribuição das Escrituras é extremamente controlada, para que não sejam importadas ou vendidas em livrarias comuns. Como resultado, é difícil para as igrejas não registradas terem um exemplar da Bíblia. Talvez seja isso o que querem impor aqui no Brasil também.. será?
Fonte: Missão Portas Abertas

Sem contar é claro com os milhares de cristãos que viveram na igreja primitiva, antes de Constantino criar o “cristianismo” e que não tinham nenhum tipo de templo oficial para se reunirem. Foi apenas no ano 190 d.C. que a palavra grega ekklesia, que traduzimos como igreja, foi pela primeira vez utilizada para se referir a um lugar de reuniões dos cristãos. Até o quinto século o lugar de reuniões dos cristãos eram as casas, e não um templo, já que o primeiro templo cristãos surgiu apenas no século IV, após a conversão de Constantino.O primeiro templo cristão começou a ser construído por Constantino, sob influência de sua mãe Helena, em 327 d.C., às custas de recursos públicos, e sua arquitetura seguia o modelo das basílicas, as sedes governamentais da Grécia e, posteriormente, de Roma, e dos templos pagãos da Síria. Estas basílicas cristãs foram construídas com uma plataforma elevada acima do nível da congregação e no centro da plataforma figurava o altar, e à sua frente a cadeira do Bispo, que era chamada de cátedra, isso deu origem ao termo ex cathedra que significa “desde o trono”, numa alusão ao trono do juiz romano, e, por conseguinte, era o lugar mais privilegiado e honroso do templo. O Bispo pregava sentado, ex cathedra, numa posição em que o sol resplandecia em sua face enquanto ele falava à congregação, pois Constantino, mesmo após a sua conversão ao Cristianismo, jamais deixou de ser um adorador do deus sol. Assim sendo, o atual modelo hierárquico do Cristianismo, que distingue clero e laicato, teve origem e ou foi profundamente afetado pela arquitetura original dos templos do período Constantino.
Fonte: Livro Cristianismo Pagão, Frank Viola.
Que se cumpra logo, para aqueles que ainda não perceberam o cumprimento da profecia de Cristo, a palavra que diz: Derribai este templo, e em três dias o levantarei!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Aborto - Em homenagem a minha amiga saltitante...


Me perguntaram se eu sou a favor ou contra o aborto. Minha resposta é que sou contra qualquer agressão ao ser humano, não só o homicídio, ou o aborto, mas contra qualquer tipo de violência a integridade humana, seja ela física psicológica ou espiritual. O Aborto é uma violencia extrema contra a forma mais indefesa de humanidade, uma atrocidade, um "genecídio", algo revoltante.
Sou contra o aborto mas também sou contra o abuso sexual praticado contra adultos, e, principalmente, contra duas irmãs de 9 e 13 anos de idade, por um padrasto, que destruía a alma ingênua das enteadas durante 3 anos consecutivos, dentro do lugar onde as crianças deveriam poder chamar de casa.
Sou contra o aborto e também sou contra a pedofilia, seja ela praticada por familiares, por estranhos ou por clérigos que considerem este crime, ou o estupro, menos relevante do que o aborto feito para evitar que uma criança de 9 anos passasse por uma gravidez de gêmeos, que incorria em grande risco para a vida da pobre criança.
Sou contra o aborto e contra a violência doméstica praticada contra as crianças e mulheres, que são vitimas silenciosas de um sofrimento desumano que as acomete diariamente por longos anos, até que morram, ou, para evitar a morte, fujam de casa indo engrossar as estatísticas de criminalidade das grandes cidades.
Sou contra o aborto e também contra a fraqueza de alma que faz com que mães não tenham forças para lutar contra o abuso cometido contra seus filhos, assentindo que o homem que elas escolhem para ser seu companheiro cometa atrocidades contra pequeninos.
Sou contra o aborto e contra a hipocrisia daqueles que se dizem contrários ao aborto mas nada disseram enquanto seis milhões de judeus pereciam em campos de concentração, ou quando os ingleses, em sua expansão imperialista, exterminaram milhões de indianos, paquistaneses, aborígines e africanos, e menos ainda, pensou nas implicações da catequização, tocada a ferro e fogo, de milhares de nativos americanos, que só confessaram a fé cristã para logo depois serem exterminados pelas doenças espalhadas por lençóis viróticos.
Sou contra o aborto tanto quanto sou contra excomunhões de qualquer aspecto. Excomungar é o contrário do que o amor faz, o amor traz o perdão, a conciliação e a transformação da vida. Sou contra o amor condicional, sou contra o perdão tímido que aguarda passivamente a iniciativa do arrependimento. Para mim o amor e o perdão só são reais se forem reflexos do amor e perdão que encontramos em Deus, que providenciou nossa redenção antes da fundação do mundo, para não nos deixar eternamente em nossa excomunhão espiritual.
Sim, eu sou contra o aborto, sou contra a interrupção da vida seja ela no seu início, meio ou fim. Afinal a morte é o último inimigo a ser vencido. Sou contra o aborto e contra muitas coisas que acontecem neste mundo caído. Contudo, ser contra tantas coisas não é o suficiente para que elas deixem de acontecer, porque vivemos num mundo aviltado pelo pecado, onde o amor é uma rara flor do deserto. Ser contra só amplia os abismos não aproxima ninguém.
Melhor que abortar ou excomungar é amar, é se dar ao próximo sem esperar algo em troca. Neste mundo tão distante do ideal, onde coisas tão ruins acontecem todos os dias, não só em Recife, mas em todos os lugares, já deveríamos saber que a única solução para amenizar as constantes más notícias que nos assaltam, é ter fé que existe um Deus capaz de transformar corações, não com castigos e excomunhões, mas com seu amor, demonstrado tão explicitamente quando morreu na cruz em nosso lugar.
Diante de tudo isso, eu devo dizer que sou contra o aborto e também sou contra a excomunhão dos que o fizeram e de quem assentiu que fosse feito. O que me consola é que a excomunhão destes só diz respeito a não estarem mais em comunhão com a “igreja” Católica, mas nada tem a ver com a comunhão deles com Deus. Posto que quem tem verdadeira comunhão com o Pai, através da graça, nunca perderá essa comunhão, porque Deus a ninguém excomunga, antes os homens é que por livre escolha se excomungam da presença dEle, Deus pelo contrário diz que nada pode nos separar do seu amor. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. [Rm 8:38-39]

Graça Barata????

Uma frase, para ter sentido lógico, precisa obedecer a algumas regras. Essas incluem o princípio da identidade, pelo qual um termo tem que ser o que é e não pode nem deixar de ser o que é nem ser o que não é. Uma frase também deve obedecer a regra da não contradição: um termo não pode ser e não ser o que é ao mesmo tempo.

Ora, Graça é, teologicamente falando, definida como favor imerecido. Existe ampla evidência bíblica para essa definição. Graça é, portanto, uma intervenção divina em favor do ser humano exercendo sobre ele Sua misericórdia, independentemente de qualquer ato de justiça própria que tal ser humano possa fazer. Isso fica clarificado em nossa expressão do cotidiano: “De graça”, querendo se referir a algo que não envolve custo ou um relação de troca monetária ou de qualquer outra natureza.

Do mesmo modo, Barato é definido como algo com um custo baixo ou que é comprado abaixo do seu valor de mercado. O adjetivo Barato, então, já pelo princípio da identidade, assume a existência de um custo ou relação de troca na obtenção do substantivo que qualifica.

Sendo assim, a frase Graça Barata não pode existir pelas leis da lógica, já que, como vimos, Graça é algo que não envolve troca, e porque também, como demonstrado acima, Barato é algo que define uma relação de troca. Portanto, tal frase acaba por infrigir o princípio da não contradição, já que para fazer sentido o termo Graça teria de ser e não ser uma coisa ao mesmo tempo. No instante em que adicionamos à palavra graça o adjetivo barata, a palavra graça deixa de significar o que ela de fato significa. Ela passa assim a ser o que não é! Se é graça, então não pode ter custo, se tem custo (mesmo baixo) não pode ser graça.

Entendo, entretanto, que muitas vezes a graça que não tem custo tem valor! E muitas vezes o valor de tal graça não é aproveitado pelo ser humano, acostumado apenas a atrelar valor a relações de troca. Porém não é possível pregar uma graça que não seja plenamente Graça! O ser humano deve aprender a atribuir valor aquilo que é feito em seu favor imerecidamente e utilizar a Graça Divina em seu favor.

Jacques Ellul diz que a Graça é um elemento absolutamente inaceitável do evangelho. De fato ele diz que pregar a Graça causa revolta e repulsa na humanidade, que está condicionada a tentar obter por seus próprios méritos qualquer benefício. Talvez uma expressão melhor seria “Graça desvalorizada” para definir aquilo que Dietrich Bonhoeffer queria dizer quando falou da “graça barata”: a Graça que não é valorizada pelo ser humano simplesmente por ser... de graça...

Existem algumas pessoas que entram pelo caminho da “graça desvalorizada”, e a igreja, apavorada com a liberdade que a pregação da verdadeira Graça de Deus pode criar, prefere então usar essa desculpa (a das pessoas que entram pelo caminho da “graça desvalorizada”) para criar todo um sistema de controle, pregando uma “graça” controlada de um deus que não tem mais o direito de ser Deus, e que é forçado a obedecer leis. Um deus ao qual foi imposto pela religião uma Magna Carta da mesma forma que os nobres a impuseram ao Rei da Inglaterra na Idade Média.

Hoje em dia vejo poucas pessoas pregando a Graça. Mesmo os que o fazem pregam uma graça que não é de fato, Graça. Na verdadeira Graça de Deus existe perfeita Justiça, pois apenas Deus pode exercer justiça sobre qualquer ser humano. Apenas Deus tem a autoridade para ser justo e justificador de todo aquele que crê. E na Graça nós vemos a verdadeira justiça de Deus, tal como demonstrado em Jesus, que revela a Justiça total, em contraste com a injustiça da lei. A justiça de Jesus é sempre uma justiça maior do que a dos escribas e fariseus que era só legalismo.

A leitura do Evangelho é a demonstração de como a Justiça de Jesus é um escândalo para a Lei, assim como a Graça é escândalo para a religião cristã hoje em dia.

Ciro D’Araújo e seu pai, Caio

terça-feira, 10 de março de 2009

Censurado!!!

Um blog é um espaço muito interessante, porque nele podemos expressar nossas opniões, crenças, experiências, histórias de vida e impressões em geral. É claro que quem lê um blog tem que estar cônscio de que as coisas que nele se encontram são opiniões pessoais, aliás a menos que seja um site dedicado a ciências exatas, tudo o que encontramos na internet, seja em blogs ou em paginas pessoais, são informações que se baseiam em fatos, experiências e crenças de indivíduos ou grupos de pessoas. A internet é um espaço virtual completamente democrático, e isso exige que as pessoas saibam filtrar por si mesmas, de acordo com aquilo que crêem e pensam, as informações nela contidas, para que possam aplicar ou descartar de suas vidas o conteúdo lido.

Meu blog é tão meu quanto de mais ninguém, tudo o que escrevo aqui é fruto de minha experiência de vida e de meu relacionamento com Deus e com as pessoas. Não sou teólogo, apesar de ser formado em teologia, não sou mestre, não tenho ovelhas, não sou líder de ninguém, não sou professor, não tenho compromisso com nenhuma ideologia de qualquer instituição, não almejo o posto de guru, não me considero dono de um rebanho de almas, não me arrogo o título de profeta, e, portanto, não falo em nome de Deus [sei que ele fala por si mesmo], não sou sustentado financeiramente por nenhuma religião [nunca fui], não ganho nada com o que publico neste blog [seja financeiramente ou qualquer outro tipo de ganho, pelo contrário, só tenho angariado desafetos], não espero vender livros, CDs, DVDs ou qualquer outro tipo de amuleto através deste espaço, e não desejo influenciar ou mudar a forma de pensar, agir e crer de quem quer que seja, nem dos que estão na chamada igreja, nem dos que estão fora dela, nem dos que estão contra ela.

Minhas palavras são apenas pedaços de mim, idéias, informações acerca de mim mesmo e de mais ninguém. Nunca houve, não há e nunca haverá no conteúdo deste blog, qualquer convite ou incitação para que os fieis de nenhuma religião deixem seus lugares de repouso e sigam após mim, ou após algum outro. Quem anda comigo são meus amigos, aqueles que tem prazer em estar do meu lado, não atrás de mim, e muito menos por força de alguma autoridade eclesial da qual eu me revista, muito menos porque esperem que eu seja para eles um guia, ou alguém que dite para eles as regras, ou as leis, ou aquilo que podem ou não podem fazer. Esse não é meu papel, existe um, e somente um, que tem esta autoridade, e o nome dele é Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz, e aqueles que comigo andam, sabem ouvir a voz dEle, não dependem de mim. Quanto a mim, sirvo em alegria àqueles que de mim se aproximam por amor a eles.

Sei que minhas palavras incomodam e preocupam certos lideres, e não os condeno por isso, acho que os pastores devem ser zelosos de seus rebanhos, afinal essa é a função deles. Portanto, se você meu caro leitor, tem um líder, e aprendeu que deve ser obediente e submisso a ele, se você acredita que isso é o que a Bíblia ensina, e se o seu líder te orientou a não ler ou a tomar cuidado com aquilo que lê neste site, te aconselho a ouvi-lo, uma vez que você voluntariamente se colocou debaixo da autoridade dele.

Aos líderes o que eu posso dizer é que nada do que escrevo aqui tem cunho pessoal, que não falo de pessoas falo de ideologias, de espíritos, de modismos, de ondas e de tudo mais que me der na telha. Assim sendo amados, se não querem que os membros de suas igrejas leiam o que penso, ou o que tenho a escrever, deixem isso bem claro para eles, porque de agora em diante meus escritos continuarão a serem publicados e, não vou deixar de escrever nenhuma virgula do que penso e sinto, não vou usar meias palavras e não me preocuparei nem um pouco, se o que será escrito, irá incomodar alguém ou prejudicar os interesses empresariais de alguma instituição. Sei que falam de mim pelas minhas costas, e não farei o mesmo com ninguém, mas também não tenho medo do que vão falar de mim. Não deixarei de denunciar aquilo que EU considero errado e muito menos de expressar aqui neste espaço que é MEU o que EU quiser dizer.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Freedom!!!


Alguns anos atrás li um livro chamado “O Jesus Que Eu Nunca Conheci” de Philip Yancey, naquela ocasião me tornei um admirador deste autor, depois deste título adquiri e li outra dezena de livros de Philip, quase todas as publicações dele disponíveis no Brasil. Na ocasião, o impacto da leitura do livro causou-me um fascínio pela pessoa e obra de Jesus. Sim, eu já era um cristão desde criança, e já era um evangélico professo há algum tempo, mas Jesus ainda era um ilustre desconhecido para mim, eu já havia ouvido muitas histórias sobre ele, já havia ouvido sermões em uma igreja batista que me levaram a crer que eu precisava “aceitar” Jesus como meu salvador pessoal, mas, ainda não conhecia Jesus, ele era um vulto de algo muito grande para que eu percebesse, na minha cabeça ele ainda era um Deus de quem eu deveria guardar uma distância de segurança, e um respeito solene e impessoal. Eu me relacionava com a igreja, na ilusão de que ela era tudo que eu poderia saber sobre Jesus, a igreja me dizia o que era certo e errado, a igreja me dizia o que era bom ou mal, ela me ensinava como me comportar, e como “fazer a vontade de Deus”. Ou seja, eu era um crente institucionalizado.
Hoje eu olho para traz, para tudo o que eu aprendi na igreja e me pergunto como eu pude estar tão perto e tão longe da pessoa de Cristo por tanto tempo. Como eu podia olhar para o rosto dele e conhece-lo se minha visão estava ofuscada por um véu de religiosidade e tradição? Eu estava exatamente como Paulo diz acerca daqueles que liam a Tora, até então ainda existia um véu sobre meu coração que precisava ser retirado (2 Co 3:14-15). Mas graças a Deus me converti da religiosidade para Cristo e o véu me foi tirado (vs 16), e agora posso viver a liberdade que há nos Espírito do Senhor (vs 17), refletindo a Sua glória sendo assim transformado dia a dia à imagem de Cristo (vs 18).
Eu havia aprendido a pautar minhas crenças em um híbrido de Antigo Testamento com Novo Testamento, ninguém tinha tido a coragem de me explicar o que está escancarado no em 2 Co 3:14 - Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido; Assim eu me esforçava por cumprir o que já fora cumprido por Cristo na cruz, me debatia tentando viver conforme aquilo que havia sido abolido por Jesus quando ele tomou meu lugar naquele madeiro. Mais um texto que não me explicavam: Rm 10:2-4 - Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Esse era eu, zeloso de Deus, mas sem entendimento.
Assim vivia eu, descartando alguns mandamentos que não eram mais necessários e defendendo outros que eram interessantes para a instituição, uma mescla esquizofrênica de Lei e Graça, onde a graça era só um tópico teológico e a Lei, essa sim, era a vivencia da fé mutante que se instalara em mim. Até hoje quando penso sobre este assunto me surpreendo pela minha incapacidade de questionar porquê não precisávamos mais guardar os cerimoniais levíticos, mas usávamos os textos levíticos para defender a obrigatoriedade cultual de se entregar dízimos.Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 5:17) hoje vivo uma espiritualidade genuína, simples e sem ostentações, sendo grato a Deus por sua Graça derramada sobre minha vida, conforme tudo o que se diz em Rm 3:20-24 - Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Espiritualidade de Árvore de Natal


Nesta época do ano, as comemorações do natal colorem e enfeitam as ruas, casas, shoppings, praças com luzes papeis brilhantes, bolas de vidro, guirlandas e uma infinidade de materiais dependendo da criatividade de quem produz o espetáculo do comércio de natal.
Dentre todos os símbolos de natal, o que mais me impressiona é a árvore de natal, muitas são as explicações da origem do costume de se enfeitar um pinheiro na época do solstício (21 de Dezembro), a minha preferida é a que relaciona o costume da árvore com Ninrode, diz a tradição que ele era tão profano que se casou com a própria mãe, Semíramis. Depois de sua morte, seu corpo foi cortado em pedaços e enviado a vários lugares. Então sua mãe/esposa reivindicou ser ele o deus-sol. Mais tarde, quando Semíramis deu à luz seu filho Tamuz, exigiu para este o título de herói, o Ninrode renascido. Ela dizia que um grande pinheiro havia crescido da noite para o dia, brotando de um tronco de árvore morta, o que simbolizava a ressurreição de Ninrode para uma nova vida. Todo ano no dia do aniversário do nascimento de Ninrode, Semíramis afirmava que ele descia para visitar a árvore, sempre viva e verdejante, deixando nela muitos presentes. O dia do aniversário de Ninrode era 25 de dezembro – dia do deus-sol.
Mas não quero dar explicações sobre a origem dos símbolos natalinos, e tampouco discutir a conveniência deles. Minha intenção é meditar sobre o que acontece com um pinheiro nesta época do ano. Como algo que é naturalmente belo, como toda criação de Deus, ganha uma maquiagem, uma capa, uma superprodução que torna a beleza divina em algo artificial, mecânico, artificial. Podemos perceber que há uma tendência humana de alterar o curso da natureza e tentar fazer mais bonito aquilo que já é naturalmente belo. São tantos recursos, tantos adereços e luminosidade artificial que fica difícil discernir a verdadeira essência do pinheiro.
Gostamos de enfeitar coisas, quadros na parede, brincos nas orelhas, néon no interior dos carros, etc. Não é fácil ver beleza na simplicidade, é trabalhoso constatar a beleza natural das coisas, e um exercício titânico apreciar o simples o humilde. Somos apegados ao grande, brilhante, sonoro, colorido, complicado, misterioso, enfim... gostamos de tudo produzido.
Tudo bem quando a mania de enfeitar está relacionada a casa, corpo, carro, comércios, mas fica meio estranho quando essa mania atinge a espiritualidade. O que mais tenho visto hoje em dia são igrejas que se parecem mais árvores de natal, cheias de brilho, enfeites, cores, presentes, mas com sua essência ofuscada pelo brilho artificial das manias humanas. Vou resistir a tentação de desenrolar aqui um cordel de acusações contra as práticas comerciais e cinematográficas do evangelicalismo nacional, já deixei bem clara minha repulsa a tais práticas em outras postagens neste blog.
Como é época de natal, e alegamos comemorar o nascimento de Cristo neste período, senti-me tocado a postar algo sobre a simplicidade com a qual Deus entra neste mundo, a forma modesta, simples e silenciosa como Jesus, o salvador do mundo, entrou em cena na história humana. Como testemunhas de sua chegada, um casal sem lugar para se hospedar, alguns animais e um grupo de pastores maltrapilhos, somente isto, não havia nenhum coral humano saudando a chegada de Deus, havia sim um coral de anjos adorando o menino-Deus, mas a apresentação foi vista apenas por aqueles humildes pastores. Deus não se impressiona com luzes, sinos, banquetes e nada do que nossa criatividade possa produzir. Fica claro no episódio do nascimento de Jesus, que Deus não é impressionável, que o relacionamento que ele espera com sua criação não passa pelos cultos elaborados, cheios de ritos e danças hipnóticas, nem pelos mantras extáticos que convencionamos chamar de louvores. Deus não está interessado em ofertas do estilo leilão, quem dá mais em troco desta benção? Deus não está preocupado com o tipo de gesso usado para cobrir o teto do templo, e muito menso com a quantidade de pontos por centímetro do tapete do altar. Enfim, jejuns, luas novas, shofar, coberturas, são tantas bolas de natal coloridas, tantos frufrus... espiritualidade de árvore de natal, do tipo que dura um mês e meio e depois se esmaece no dia de reis.
Fenômeno cada vez mais comum... pessoas compram um monte de enfeites que determinada religião vende como sendo garantia de felicidade eterna, mergulha naquela fantasia durante um tempo, e depois perde a graça, se enche dos pisca-piscas, se irritam com a não concretização do seu desejo de ser abençoado, e joga toda aquela tralha colorida numa caixa empoeirada no interior de sua alma escura, tornando-se então mais endurecido do que antes.
A proposta do natal é totalmente outra, quando Deus decide habitar entre nós a intenção era trazer paz ao coração do homem, simplificar todo processo de pacificação baseado nos rituais, nos enfeites, nos procedimentos e gestuais purificadores. Cristo quer nos dar vida em abundância, retirar todo o impedimento, toda a separação entre Deus e homem. Meu desejo neste natal é que todos quantos lerem esta simples mensagem, se desvencilhem de toda fantasia, de toda artificialidade de relacionamento com Deus, e se deixem expostos, como pinheiro natural, sem bolas ou fitas, que se aproximem com ousadia daquele que já não nos condena, mas ama incondicionalmente. Oro para que Jesus encontre você sem mascaras, sem enfeites, sem luzes piscantes e que ele possa adornar você com as vestes da simplicidade e da paz celestial. Feliz Natal!!!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Evangélico Mundano




Já faz algum tempo que não escrevo neste espaço, acho que meus assuntos se esgotaram, nunca fui muito bom de prosa. Mas, como sei que existem alguns que sentem falta dos textos que aqui são postados, seja por sentirem-se tocados por eles ou para vigiar meus passos na nova caminhada que assumi em minha vida, sinto-me impelido a escrever algo para satisfazer os dois grupos de pessoas acima.
Recentemente um fato hilário aconteceu comigo, e me fez meditar nos valores cristão de nosso tempo. Tenho o hábito de ficar conectado ao MSN e ouvir músicas ao mesmo tempo, e a maioria dos usuário de MSN sabe que existe uma opção que pode ser ativada nas ultimas versões deste aplicativo, que exibe a música que você está ouvindo no Windows Média Player, como mensagem pessoal na sua janela do MSN. Pois bem, Tenho uma lista considerável de CDs em minha biblioteca do Média Player, e dentre elas figurava uma faixa chamada “A primeira Vista” de Daniela Mercury, pensei em explicar aqui a razão pela qual esta faixa figura entre as músicas de minha biblioteca musical, mas isso seria me fazer escravo de homens, querendo me justificar diante deles, por isso prefiro não explicar e deixar que os juizes da Inquisição Evangélica façam suas suposições, basta apenas dizer que não aprecio o tipo de música que Daniela Mercury faz, não por ela ser uma “mundana” conforme a classificação musical oficial da igreja evangélica nacional, mas porque tenho outro estilo musical.
Num é que um de meus “amigos” do MSN ao ver que estava tocando uma música “mundana” em meu computador, se escandalizou e saiu comentando com as pessoas que eu estava ouvindo aquele tipo de música, e outros comentários provavelmente surgiram, porque sei muito bem como no meio evangélico quem conta um “ponto aumenta um conto” (e não é erro de digitação). Agora vez ou outra deparo com pessoas que me sondam acerca do ocorrido, querendo saber se eu tenho realmente praticado a abominação de ouvir musicas “mundanas”, ou porque eu apaguei meu orkut, este é outro assunto que nem sequer perderei tempo tentando explicar, e por ai vai.
Como já mencionei, não vim aqui para fazer um pedido público de desculpas, mesmo porque se ouço ou não ouço musicas de Daniela, Zeca Pagodinho, Roberto Carlos, Ana Paula Valadão, Hillsong ou quem quer que seja, é um problema absolutamente meu, não tenho que prestar contas a nenhum público ou platéia que antes me aplaudia e agora me condena, não vivo da minha imagem pública, vivo conforme a minha consciência, e presto contas somente a Deus. O que quero meditar com esta postagem, como também já mencionei, é em certos valores que norteiam a classe evangélica deste país.
A primeira coisa que me chama atenção neste episódio cômico é como as pessoas na igreja vivem de tradições e desprezam, ou não conhecem os ensinamentos de Jesus. Sim, temos um ensinamento de Jesus que se aplicaria neste caso e que não foi aplicado pelo meu desastrado “amigo” de MSN. Em Mt 18:15 é dito que se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; não bastasse esta ordem de Cristo aqui em Mateus, Lucas acrescenta: “olhai por vós mesmos” (Lc 17:3) antes de citar a mesma frase encontrada em Mateus. Ora, se alguém comete algo contra o incrédulo ele não tem nenhuma obrigação de exortar seu opressor, pode sair difamando aquele que o ofendeu, pagando na mesma moeda ou até em moeda mais alta, mas se um cristão é ofendido deve seguir o ensino do seu mestre e chamar o ofensor na regulagem para ganha-lo de volta. Lucas ainda completa o dito de Jesus acrescentando que se eu ouvir sete vezes Daniela Mercury no dia e me arrepender sete vezes meu irmão deve me perdoar (Lc 17:4), mas para isso eu preciso ter a oportunidade de me arrepender e ser perdoado antes de sofrer as pedradas.
Outro assunto interessante que se evidencia neste fatídico acontecimento, é o preconceito evangélico contra as pessoas que não se rotulam com a mesma marca de igreja. Existe uma bula papal, que cresce a cada dia, relatando quais pessoas podem e quais não podem ser ouvidas, quais musicas são “ungidas” e quais não são, o que é evangélico e o que é mundano. Se um cantor de pagode chegar na igreja e pedir para se apresentar e vender alguns CDs ele não será aceito, é um mundano e deve ser mantido fora do púlpito, lugar sagrado. Mas, se este mesmo cantor entrar na igreja dar uns pulos e disser que agora é evangélico, ele só precisa voltar para casa trocar na letra de suas mesmas antigas músicas, o nome da mulher para quem compôs a música pelo nome de Jesus, e no outro dia pode voltar na mesma igreja e falar com o mesmo pastor que o rejeitou e certamente terá duas horas do culto para dar o seu “testemunho” cantar suas músicas, que ontem eram mundanas e hoje foram maravilhosamente ungidas pelo nome de Jesus, e vender seus CDs na porta da igreja que ontem estava fechada para ele, mas hoje se abre e faz faixas e anúncios em carro de som, para convocar o maior número de pessoas possível, para ouvirem o grande testemunho do irmão fulano de tal de como sua vida foi transformada misticamente pelo encontro sobrenatural que teve com Jesus, ontem.
O que é ser evangélico e o que é ser mundano? A linha que separa estes dois grupos de pessoa é muito tênue, e se afina exponencialmente se o mundano é famoso e passa a se chamar evangélico, ele não precisa ser transformado pelo andar diário e intenso com Jesus, só precisa se dispor a usar o púlpito para contar às multidões que se acotovelam para ver o grande sinal de poder manifestado naquele que antes era imundo e agora, num passe de mágica se tornou santo, de que forma maravilhosa Deus o salvou e o rotulou de evangélico.
Mas eu fico me perguntando, o que era evangélico para Davi, quando ele dançava quase nu em público diante da arca, será que tocava um ritmo gospel ou um axé? O que era evangélico para Salomão, quando escreveu o Cântico dos Cânticos? Será que ele ouvia Lagoinha ou Chimarruts, enquanto beijava sua parceira e lhe elogiava a beleza? Mai vamos direto ao ponto, o que era evangélico para Jesus, será que ele ungiu os instrumentos antes de ouvir a música que tocava nas bodas de Cana? Ou será que ele pediu o regente para trocar o ritmo porque seus ouvidos eram santos demais para ouvir reggae? O que fazer para tornar uma música mundana em evangélica? Mudar de gravadora seria solução? Será que se Daniela amanhã se “converter” depois de perceber que o mercado fonográfico evangélico pode ser tão, ou mais, lucrativo quanto o mercado mundano, e começar a colocar Jesus escondido em uma ou outra linha de suas canções, eu deixaria de ser um desviado e passaria a ser considerado um profeta, porque vislumbrei sua conversão antes de todo mundo?
O que faz das músicas evangélicas menos mundanas que as “mundanas”? Vejamos, os grupos evangélicos gastam fortunas na produção e divulgação de seus CDs, usam muitas vezes os mesmos estúdios, contratam profissionais “mundanos”, usam instrumentos “mundanos”, gravam seus discos no mesmo material que os “mundanos”, vivem num mercado que segue as mesmas regras do mercado “mundano”... Ou será que os evangélicos acham que os grupos evangélicos não visam lucros? Ou será que os grupos evangélicos não disputam lugares nas paradas de sucesso gospel? ou será que os grupos evangélicos não ficam cada dia mais ricos, famosos e vaidosos, vendendo musica de má qualidade para os evangélicos que não sabem diferencial entre dó e ré? Ou será? Ou será? Ou será? Mais um será: será que se um "mundano" ouve musicas evangélicas ele se torna cristão???
Bom eu poderia colocar dezenas de serás aqui... Mas para não me prolongar, quero concluir. Evangélico ou “mundano”? Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados." (Tito 1:15). To cansado de ouvir histórias de grupos evangélicos que cobram alto para se apresentarem, fazem exigências dignas de estrelas de Hollywood, to cansado de saber quem são as inspirações de muitos destes grupos evangélicos, se eu ouço musica “mundana”? Me diga você se existe algo que não seja “mundano” no mundo? Me diz você quais são os verdadeiros quesitos para diferenciar o que é um e o que é outro? "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal." (João 17:15). Repito aqui está oração de Jesus: que Deus não me faça surdo ou cego para este mundo, mas que ele me livre do mal que existe, mesmo dentro do que se convenciona chamar evangélico.