Sou contra o aborto mas também sou contra o abuso sexual praticado contra adultos, e, principalmente, contra duas irmãs de 9 e 13 anos de idade, por um padrasto, que destruía a alma ingênua das enteadas durante 3 anos consecutivos, dentro do lugar onde as crianças deveriam poder chamar de casa.
Sou contra o aborto e também sou contra a pedofilia, seja ela praticada por familiares, por estranhos ou por clérigos que considerem este crime, ou o estupro, menos relevante do que o aborto feito para evitar que uma criança de 9 anos passasse por uma gravidez de gêmeos, que incorria em grande risco para a vida da pobre criança.
Sou contra o aborto e contra a violência doméstica praticada contra as crianças e mulheres, que são vitimas silenciosas de um sofrimento desumano que as acomete diariamente por longos anos, até que morram, ou, para evitar a morte, fujam de casa indo engrossar as estatísticas de criminalidade das grandes cidades.
Sou contra o aborto e também contra a fraqueza de alma que faz com que mães não tenham forças para lutar contra o abuso cometido contra seus filhos, assentindo que o homem que elas escolhem para ser seu companheiro cometa atrocidades contra pequeninos.
Sou contra o aborto e contra a hipocrisia daqueles que se dizem contrários ao aborto mas nada disseram enquanto seis milhões de judeus pereciam em campos de concentração, ou quando os ingleses, em sua expansão imperialista, exterminaram milhões de indianos, paquistaneses, aborígines e africanos, e menos ainda, pensou nas implicações da catequização, tocada a ferro e fogo, de milhares de nativos americanos, que só confessaram a fé cristã para logo depois serem exterminados pelas doenças espalhadas por lençóis viróticos.
Sou contra o aborto tanto quanto sou contra excomunhões de qualquer aspecto. Excomungar é o contrário do que o amor faz, o amor traz o perdão, a conciliação e a transformação da vida. Sou contra o amor condicional, sou contra o perdão tímido que aguarda passivamente a iniciativa do arrependimento. Para mim o amor e o perdão só são reais se forem reflexos do amor e perdão que encontramos em Deus, que providenciou nossa redenção antes da fundação do mundo, para não nos deixar eternamente em nossa excomunhão espiritual.
Sim, eu sou contra o aborto, sou contra a interrupção da vida seja ela no seu início, meio ou fim. Afinal a morte é o último inimigo a ser vencido. Sou contra o aborto e contra muitas coisas que acontecem neste mundo caído. Contudo, ser contra tantas coisas não é o suficiente para que elas deixem de acontecer, porque vivemos num mundo aviltado pelo pecado, onde o amor é uma rara flor do deserto. Ser contra só amplia os abismos não aproxima ninguém.
Melhor que abortar ou excomungar é amar, é se dar ao próximo sem esperar algo em troca. Neste mundo tão distante do ideal, onde coisas tão ruins acontecem todos os dias, não só em Recife, mas em todos os lugares, já deveríamos saber que a única solução para amenizar as constantes más notícias que nos assaltam, é ter fé que existe um Deus capaz de transformar corações, não com castigos e excomunhões, mas com seu amor, demonstrado tão explicitamente quando morreu na cruz em nosso lugar.
Diante de tudo isso, eu devo dizer que sou contra o aborto e também sou contra a excomunhão dos que o fizeram e de quem assentiu que fosse feito. O que me consola é que a excomunhão destes só diz respeito a não estarem mais em comunhão com a “igreja” Católica, mas nada tem a ver com a comunhão deles com Deus. Posto que quem tem verdadeira comunhão com o Pai, através da graça, nunca perderá essa comunhão, porque Deus a ninguém excomunga, antes os homens é que por livre escolha se excomungam da presença dEle, Deus pelo contrário diz que nada pode nos separar do seu amor. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. [Rm 8:38-39]