quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ainda há tempo

Jesus tinha um projeto bem definido para seus discípulos, ele ordenou que eles aguardassem em Jerusalém, para que fossem revestidos pelo poder do alto. Após receberem o derramar do Espírito Santo eles deveriam sair pelo mundo todo, pregando o Evangelho do Reino, anunciado as Boas Novas, ensinando com simplicidade e humildade aos discípulos a viverem o Evangelho em suas próprias culturas. Desse modo, o Reino de Deus se constituiria de um movimento invisível, crescente, levado pelo vento do Espírito nos moldes que Jesus ensinou durante o seu ministério ao ar livre em Israel.

Não consigo imaginar Jesus se servindo da estrutura do templo judeu para anunciar o Reino de Deus. Os valores do Reino anunciados por Jesus eram vivenciais, e não filosóficos, ele não pregava um sermão ele vivia a sua mensagem, quer nas praças, nos caminhos, nas casas, durante as festas ou reuniões religiosas, ele ensinava pelo exemplo e não tinha nenhuma pressa em colher os frutos, Jesus não media as pessoas pelo resultado e tampouco avaliava o sucesso de seu ministério pelo índice de conversões. É impossível para alguém que leia o Novo Testamento afirmar que Jesus tencionava criar uma religião engessada, resumida a um edifício que funciona como centro de poder.

Para Jesus, o Reino de Deus não é algo visível ou palpável, não se pode analisar, muito menos ser resumido a uma catedral bem arquitetada e engenhada para impressionar a vista dos transeuntes e fomentar o orgulho dos que contribuíram para sua construção. Jesus espera de seus discípulos que eles vivam como ele viveu, que aquilo que ele fazia, enquanto andava pelas estradas empoeiradas da Palestina, se torne o modo de vida da Igreja.

Ao contrário do pragmatismo defendido pelos líderes atuais, Jesus anunciava um Evangelho que é um Caminho inexeqüível, onde os fins não justificam os meios, e no qual os resultados não determinam os métodos, mas os métodos são parte dos resultados, a proposta de Jesus só se faz possível quando os crentes são capazes de abandonar toda forma de controle e poder.

O poder da Igreja está em não ter o “poder” de mandar na vida e de controlar os homens e o mundo. No afã de salvar este mundo através do exercício de poder e domínio, a igreja não só perde a sua própria vida, mas deixa de ganhar o mundo. Não há lugar para exibicionismos no Reino proposto por Jesus, nele não cabem estrelas ou celebridades. Basta atentarmos para os exemplos que Jesus usa para ilustrar o Reino de Deus. O sal exemplifica como deve ser a ação da igreja na terra. O sal tem que ter sabor, senão já não presta para nada. Mas para que o sabor do sal seja sentido ele precisa se dissolver e sumir no meio em que é colocado.

Outro exemplo utilizado por Jesus é a luz, esta deve ter a ação contínua, expressa em amor e misericórdia, sem que haja alarde ou trombetas anunciando sua presença, permitindo que os homens recebam os benefícios da luz, usufruindo assim das boas obras, que Deus de antemão preparou para que os que são da luz andem nelas, e dessa forma reconheçam os benefícios do Reino, através das atitudes de seus súditos e louvem a Deus pela presença da Igreja neste mundo.

Jesus comparou o Reino de Deus também ao fermento escondido na massa, o qual atua na sua estrutura transformando-a até que toda a massa esteja modificada por sua ação. Ninguém pode acompanhar o processo pelo qual o fermento age, da mesma forma o Reino de Deus deve atuar neste mundo sem que ninguém possa dar glória a líderes humanos, assim toda glória é devida somente ao Pai.

A proposta de simplicidade feita por Jesus, entretanto, deu lugar a uma infinidade de engrenagens e esquemas complexos de dominação dos fieis, produzindo centros de poder eclesiásticos que hoje chamamos de igrejas. Quão distante anda a igreja atual do conselho de Jesus aos seus discípulos em Mt 20:26 – “Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva.” Logo o cristianismo providenciou se burocratizar, seguindo os modelos dos governos deste mundo, e deixando de lado o serviço despretensioso e ágil ao próximo, e o discipulado que não se prendia a nenhuma estrutura física, mas que rompia os limites geográficos e sociais levedando toda a massa do mundo em redor.

Contudo, ainda há tempo para que a igreja viva o Evangelho que se dissolve para embrear os sentidos do mundo, e que brilha de forma a desmascarar o pecado e apontar na direção do Salvador que permanece de braços abertos para receber os que se arrependem e buscam a salvação. Ainda há tempo para que os que lideram o rebanho de Deus deixem seu status de líderes e assumam sua posição de servos dos servos, abandonando toda ânsia de poder e reconhecimento.

Ainda há tempo para que as reuniões cristãs sejam momentos alegres onde possam ser renovadas a fé e o amor dos fieis, e não um espetáculo paras demonstrar a capacidade de administração daqueles que se alimentam de glórias eclesiais. Ainda há tempo para que tornemos ao verdadeiro Evangelho e abandonemos a ilusória mega estrutura religiosa em que a igreja se tornou.

2 comentários:

Worlen Kaizer disse...

E frustrante ver como os "lideres espirituais" liderem com um sentimenyo totalmente diferente de Jesus. Pastores que não querem que seus discipulos aprendam a voar, mpqara que possam sempre carregar o fardo da dependencia, que na verdade sugam as vidas das ovelhas e destroem qualquer possibilidade de viver os planos de Deus...
Hoje em dia é um absurdo pra muito viver a simplicidade do evangelho, ou exercer uma liderança que não pratique o ato de feitiçaria de manipular os fiéis com algo que não seja o poder do Espirito Santo. Eu creio de todo coração que esse é o tempo de voltarmos a essência, lharmos pra Jesus, e crêr na simplicidade que Ele pregou, deixarmos de lado a construção de nossas torres e estruturas que nos levam sempre mais alto, mas longe de Deus...mais próximo do lugar onde um dia esteve o diabo...Deus tenha misericórdia de nós;

Unknown disse...

Paz, amado... Têm sido muitos os questionamentos sobre a eficiência e eficácia da igreja no meio da sociedade moderna. Nos tornamos pessoas ignorante das verdades bíblicas, das doutrinas evangélicas, dos princípios do Reino de Deus, dos valores e éticas cristãs. Somos hoje, quase que um analfabeto quando o assunto é fé, justiça, misericórdia, salvação, missão. Se o apóstolo Paulo afirmou que o “justo vive pela fé”, hoje infelizmente não é difícil descobrir qual a motivação vivencial de muitos. Mas apesar dos pesares é bom ver o evangelho crescendo... Pena que seja só nas proporções de adesões religiosa. E o que de fato deveria acontecer é que o “evangelho” deveria crescer em nós... Assim qualquer coisa que carregue o seu nome do lado de fora seria um mero reflexo do que foi gerado no nosso coração.
Que os nossos passos possa ser firmados na “palavra”,pois só ela liberta.
Um grande abraço!
Silvania Itaboray.