sábado, 19 de abril de 2008

Perdão

O poder do perdão é surpreendente, assim como o é a dificuldade em liberá-lo. Assim como a dinamite é inofensiva, a menos que um pequeno pavio seja ligado a ela e uma simples chama seja acesa para liberar toda a sua capacidade transformadora. Também o poder do perdão é muitas vezes anulado pelo poder do nosso senso de justiça, pois somos tentados a pensar que o perdão é uma mercadoria a ser negóciada. Não, o perdão não é facultativo, ele é uma ordem de Jesus. Não é um presente dado a alguém que se arrepende, o perdão é um ato de fé na Palavra de Deus.
Vivemos num mundo onde o perdão é de longe a atitude mais necessária, contudo, uma das menos recorrentes. Todos sabemos como é importante perodar, discursamos sobre ele eloquentemente, contudo basta uma simples ocasião na qual tenhamos que ser os agentes do perdão, e nos vemos degladiando com aquela sensação de que estamos nos humilhando, de que isso não é justo, ou que estamos engolindo um saco de estopa. Helmut Thielicke viveu na Alemanha durante a ditadura nazista, escrevendo sobre a importância do perdão ele diz:

"Essa questão de perdoar não é de maneira nehuma uma coisa simples, Dizemos: "Muito bem, se o outro se arrepender e pedir o meu perdão, eu lhe perdoarei, eu desistirei". Fazemos do perdão uma lei de reciprocidade. e isso não funciona nunca. Pois, então, ambos dizemos a nós mesmos: " outro tem de tomar a iniciativa". Dai, fico observando como um gavião para ver se o outro vai sinalizar-me com os olhos ou se posso detectar alguma pequena indicação entre as linhas de sua carta que demonstre que está arrependido. Eu estou sempre pronto a perdoar... mas nunca perdôo. Eu sou justo demais."

Tomar a iniciativa de perdoar é a chave num mundo onde cada vez mais somos atraídos a cobrar nossos direitos na justiça, convencidos de que o justo é o melhor. Como diz o profeta, nossa justiça é um trapo de imundiça aos olhos de Deus (Is 64:6). Com ela tentamos cobrir nossas feridas podres e infeccionadas, mas as secreções insistem em sair e se impregnam no tecido de nossa justiça, tornando-a fétida e perpetuando a dor de nossas chagas interiores.

Devemos aprender com o perdão oferecido por Deus, ele é incondicional, capaz de esquecer a ferida aberta e abandonar os termos condicionais que invariávelmente acabam por tornar a reconciliação impossível. Somente este tipo de perdão desinteressado pode curar as feridas de nossas almas e nos deixar livres para viver o amor e a comunhão.

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